Tuesday, May 28, 2013

Um amor & um doce

Eu comecei a te respeitar por você ter tolerado - quase - pacientemente todas as minhas desculpas e furadas e charmes e patadas e afins até finalmente aceitar sair com você.

Eu desconfiei das suas intenções quando você topou assistir "Assassinos por Natureza" num primeiro encontro. E em todas as vezes que você acidentalmente encostou a sua mão no meu braço no cinema.

Eu te esconjurei quando você fez aquele comentário sobre "já ter arranjado outra companhia para programas no centro até lá" antes de eu ir viajar. Mas me derreti quando você escreveu "olha quem voltou" com um coraçãozinho quando viu que eu tava de volta.

Eu achei que você pudesse estar interessado em mim quando você me mandou aquela mensagem durante aquele show sublime dizendo que você tava curtindo o som de boa do lado de fora.

Eu fiquei frustrada no dia em que você me pediu pra te avisar se eu fosse mesmo no cinema e, quando eu decidi te ligar, você disse que tava ensaiando pra sua peça e que não poderia ir.

Eu senti um arrepio na espinha e um puta frio na barriga quando você me olhou daquele jeito no meio da apresentação da peça. E quando você me perguntou, depois do espetáculo, se eu tinha visto a sua mensagem e se eu ia sair de novo com você. Eu disse que gostava de sentir vontade e de decidir as coisas na hora e você disse que eu precisava "programar um pouco a minha desprogramada vida"...

Eu achei que você ia dar em cima de mim quando a gente parou em frente àquela farmácia antes de atravessar a rua. Quando você, depois de sequer encostar em mim no cinema durante o filme inteiro, primeiro falou uma grosseria qualquer pra depois ser delicado comigo. Um elogio tão discreto e sutil não podia passar assim impune, né. Nem aquele agarrão em frente à entrada do metrô... você me assustou demais naquele dia kamikaze. Quando você disse que não era mais adolescente pra ficar dando pega no cinema. Quando você disse que ainda tínhamos "muitos assuntos a tratar" e eu não perdi a oportunidade de, infamemente, te chamar de tratante.

Eu soube que ia me interessar por você no dia daquele jogo de futebol. "A questão do tempo again between us". "Eu acho da hora de vez em quando se misturar com a massa, sabe?" Quando você deu atenção pros seus amigos e me deixou sentar sozinha no ônibus mas ficou me observando de longe por entre os bancos. Quando você me viu andando no meio dos marmanjos e colocou a mão no meu ombro e disse "calma, esse lugar aqui é perigoso". Quando você ficou me apertando inteira como que tentando se aproximar e ensaiando uma massagem no intervalo do jogo. Quando te vi emocionado com uma vitória improvável, inesperada, quase impossível. "Esse é um homem sentimental", pensei. Quando a gente foi embora juntos, de mãos dadas no meio da multidão. E quando a gente pegou aquele ônibus lotado e quente e abafado pra voltar e se divertiu mesmo assim.

Eu imaginei que ia gostar de você quando a gente teve uma sessão de cinema perfeita, daquelas bem pueris, bem de adolescente mesmo. O dia do sanduíche, bem comum, em que eu, desastrada, derramei refrigerante em mim mesma. Quando eu te contei depois que tinha ficado contente no dia seguinte e você me disse que tinha sonhado comigo. E aí, quando eu te perguntei do sonho, você ficou tentando me contar de um jeito light e politicamente correto... que "estávamos caminhando pela cidade por uma região com uma arquitetura bem antiga" - essa parte nitidamente para me agradar - e que você "morava no apartamento na Barra Funda e íamos até lá". E quando eu te disse que tinha gostado do sonho e te pedi pra você me emprestar.

Eu sabia que não tinha mais volta quando você me disse, antes de um programa cultural, "prepare-se pra se apaixonar pelas antiguidades que tem lá". Quando a gente viu aquele filme de graça e você ganhou aquele livro do David Lynch e ficou todo feliz. Quando você ficou segurando a minha mão quase que o filme inteiro. Quando a gente passeou por entre as salas e os móveis antigos da exposição e você disse que a sua casa, um dia, teria que ser assim. Quando a gente desceu de elevador do cinema e viu um pedacinho daquele show de samba do Nelson Sargento no saguão. E quando você me abraçou e pôs as mãos na minha cintura e me tirou pra dançar bem devagarzinho.

Eu tive certeza quando você disse "arte é a única coisa que faz sentido pra mim" e eu te disse que essa era uma das coisas que eu mais admirava e gostava em você. E você disse que eu era a advogada mais bonita que você conhecia e eu te chamei de bobo. Quando eu disse que a Monica Geller em mim ainda vivia e você disse que eu tava mais pra uma mistura de Phoebe e Rachel, por causa do lado bocó da Phoebe e do lado meigo da Rachel. Magali e Cebolinha? Magali e Chico Bento!

Eu me deixei levar de vez naquele dia do Teatro Municipal, quando o cara desconhecido te confundiu com o Dave Grohl e me chamou de "sua senhora". No dia em que a gente assistiu aquele jogo num boteco e você imitou o Silvio Santos pra mim e eu te mostrei o prédio em que eu gostaria de morar um dia ao lado do teatro. No dia em que eu te disse "hoje te espero em qualquer lugar, a qualquer hora, mas só hoje" e você de fato me fez esperar muito, demais mesmo! No dia em que você marcou o nosso encontro em Moscou às 19h17, horário de Brasília. Quando você conseguiu o emprego novo. No dia em que eu te liguei no ônibus de noite e fui a primeira a te desejar feliz aniversário. Quando eu te disse que o seu presente só chegava na próxima semana. Quando você me disse que eu era uma mulher muito especial.

Eu fiquei com muita raiva de você naquele dia em que, ao mesmo tempo, você me arrebatou com tudo com um beijo de cinema no meio da pista de dança e depois passou mal e me fez ficar cuidando de você a balada inteira. Porque eu, menina boba, fiquei tão preocupada com você, homem feito. Você, que não parava de ficar falando o meu nome over and over and over - pelo menos você não tinha esquecido - e de ficar me perguntando se eu tava bem e se eu não tava chorando...

Eu sabia que tava completamente perdida quando, depois de chorar todas as minhas pitangas, de te xingar de tudo quanto era nome o final de semana inteiro e de jurar nunca mais te ver, me vi te agradecendo e mandando um pedido de desculpas antes mesmo do seu. E inescapavelmente te perdoando aos primeiros "preciso muito te ver essa semana", "dessa vez prometo não atrasar", "sexta sem falta eu quero você", "eu sei o que farei contigo" e ao primeiro e singelo "oi". "You had me at 'hello'", lembra desse filme? Então. Foi igualzinho, exatamente assim. "Silvio Santos: olha só, você fez uma piada sem graça... Lombardi, quanto vale o show?".

Eu soube que não tinha mais jeito quando você me mandou aquela mensagem só pra saber se eu tinha acordado menos carente e pra me convidar pra assistir um show com você. E eu respondi que esse tinha sido o convite mais bonito que eu já tinha recebido e você disse que já tinha começado o seu dia contente.

".....................................................................
Att,
Diabo da Fonseca."

".....................................................................
Att,
Sua fã."

Eu me apaixonei por você naquela esquina. Naqueles grafites, naquele frio, naqueles escritos, naqueles abraços... naquele filme fofinho. No dia em que eu te disse que você tava "especialmente bonito" e você me disse que eu tinha mau gosto. Quando você imitou o Silvio no meio da rua e disse que eu era uma moça muito bonita e me perguntou se eu tinha namorado e se era "namoro ou amizade". Quando você me olhou no meio do filme no cinema e viu os meus olhos cheios d'água no escuro e me abraçou. No dia em que as suas mãos estavam mais macias e mais quentes do que nunca e os seus beijos mais irresistíveis do que sempre.

E você diz que soube quando me disse "você é um amor" e eu respondi "e você é um doce".

2 comments:

Anonymous said...

Aaaaahhhh... lindooooo!
Amore! Essa história merecerá um livro! Porque definitivamente já é um conto encantador!!!
Impossível não se deliciar e não se deixar levar por cada parágrafo... S2
#muitoamor
#muitopromissor
#todastorcemmuito
Da amiga em êxtase, M.

uma louca said...

Ah, querida... você é que é um amor sem tamanho.

Estou muito feliz e tenho taaaaaanto para te contar, tanto!

Amo você, M.