Sunday, September 25, 2011

Um

Cada dia mais eu vejo que cada um é um. Nada desse negócio de "metade", de "laranja", nada. Nós somos nossos. Cada pessoa é dela e só dela. Como Clarice, que, antes de qualquer coisa, antes de ser mãe, antes de ser esposa, antes de ser escritora, eu ousaria dizer que antes até de ser mulher, era dela. Com quem nós realmente temos que conviver e não podemos fugir é conosco mesmos... e cada experiência, cada passo, cada dia nos permite esse mergulho e esse aprofundamento em nós mesmos que só é possível a nós mesmos. E aí é que está a beleza da vida: eu sou minha, você é seu, mas nada impede que nossos caminhos se cruzem e que nos conheçamos e que nos encantemos singelamente um com o outro. Um com a individualidade do outro. Ah, as pessoas...

"Tem gente que entra na nossa vida de forma providencial e se encaixa naquela história que gosto de imaginar: surpresas que Deus embrulha pra presente e nos envia no anonimato. Surpresas que só sabemos de onde vêm porque chegam com o cheiro dele no papel. Acho maravilhoso perceber o quanto algumas vidas interagem com a nossa de um jeito tão mágico e bonito. Os milagres existem para quem tem olhos que sabem ver a sabedoria e a ludicidade amorosa próprias do que é divino. Do que transcende. Do que escapole da nossa lógica tantas vezes sem coração. Todo encontro que verdadeiramente nos toca é uma espécie de milagre num mundo de bilhões de seres humanos. Algumas pessoas a gente nem imaginava que existiam, mas, meu Deus, que agrado bom é para a alma descobrir que vivem. Que estão por aqui conosco. Pessoas que fazem muita diferença na nossa jornada, com as quais trocamos figurinhas raras para o nosso álbum."
[Ana Jácomo]

Thursday, September 22, 2011

Um encontro

Um contato, um inesperado contato.

Confesso que não esperava muito. Por enquanto.

Algumas linhas mal escritas trocadas. Mas até os tropeços fazem parte do seu charme. Pensamentos e idéias que, mesmo mal traçados, se encontram. Colidem, se fundem, se unem. Você sou eu.

Uma viagem e bad timing.

Uma espera.

De repente, uma voz. Fiquei imaginando o cheiro, o gosto, a pele daquela voz. Não entendi quase nada do que você falou no celular, maldito celular, mas o silêncio e a imaginação me contaram o que eu precisava saber. Alguém que ri das minhas besteiras com uma risada gostosa e se comove com as minhas sentimentalidades com o coração enlevado. Que me deixa esperando deliciosamente numa livraria. Que me apresenta a lugares "para ocasiões especiais". Que procura as minhas mãos com as suas. Que leva um caderninho no bolso. Que pensa "ela vai voltar um dia...". Que me dá revistas de presente, me mostra matérias e imagina se eu vou gostar. E que carrega uma mochila, como eu.

Um homem gentil.

Olhos atentos, tentando não piscar, não perder nenhum detalhe. Olhos de fotógrafo. E coração também.

Expectativas superadas? Não sei, só vou saber quando chegar em casa, beber um copo d'água e deitar na cama.

Eu quero lembrar de tudo, mas não consigo. Tudo foi tanto...

Numa escada rolante de metrô, um grito: "Viva Clarice Lispector!". Uma camiseta não usada, mas sentida. Uma estrela vermelha que tinha que estar ali. Eu sei que ainda está zero a zero. Ela tem uma coisa que é só dela, ela é dela, e de mais ninguém. O prazo de validade dos três meses. Dividindo uma "Bauhaus" e uma "Patrícia" com você. Um farol fechado. Abraços quentes e beijos molhados pelas ruas numa sem-graceza delirante. Uma delicada chuva caindo em gotas. Um casal de opostos. Uniforme e rebeldia. Convencionalidade e liberdade. Futebol e poesia. Bicicleta e magrela.

Pode embrulhar para presente, vou levar.