Presente de aniversário

Gostei que você veio. Tava preocupada já, cê não chegava nunca. Perdi meu brinco aquele dia. Levei o maior susto, te liguei e atendeu uma menina. Era sua irmã, ela é pequenininha. Você vai querer viajar comigo então? Cê tá *muito* cheiroso hoje. Você quer dirigir? Me ensina o caminho da sua casa, aí você não vai mais poder fugir. Cê não tá imprestável ainda?!?

Agora a gente vai poder se ver bem mais.

Uma mesa, duas cadeiras

Você logo puxou a sua cadeira pro meu lado. Eu, toda boba. Vim de sandália, viu? Posso beber cerveja? Sonhei com você no sábado. Acabou o assunto. Ah é? Não falo mais, então. Posso tirar uma foto de vocês? Você, tímido?!? Você acredita em tudo mesmo. Eu te aviso, de agora em diante, quando estiver sendo irônico. Você vai de enfermeira e eu, de doente. Ganhei de você no chopp. Eu tô dirigindo. Olha que eu te largo aqui, hein. Cê gosta de samba, então? Brown sugar. E entende de rock! Aonde a gente vai agora? Não sei.

Cicatrizes e feridas

"Tenho as mãos atadas ao redor do meu pescoço
Eu queria mesmo era tocar seu corpo
Reprimo meus momentos,
Jogo fora os sentimentos e depois?
Depois toco meu corpo, eu tenho frio
Sou um louco amargurado e até vazio
E me chamam atenção
Mas eu sou louco, é de paixão, e você?
Você que me retire desse poço
Eu sei, ainda sou moço pra viver
E te ver assim tão crua
A verdade é toda nua
E ninguém vê.
Eu tenho as mãos atadas sem ação. E um coração maior que eu para doar. Reprimo meus momentos. Jogo fora os sentimentos sem querer. Eu quero é me livrar, voar, sumir. Perder não sei, não sei, não sei querer mais. A qualquer hora é sempre agora chora.
[...]
Agora é hora de dizer ‘muito prazer, sorte ou azar’ e amar."

Egocêntrica por um dia

Gosto de pensar que o meu aniversário está chegando. Gosto da sensação, da festa, das lembranças e dos presentes. O que eu mais gosto é de acordar no dia do meu aniversário. Parece que o mundo fica mais habitável e menos hostil por um dia. A comida é mais saborosa e o céu, mais colorido. Mas, de uns anos pra cá, tenho odiado fazer aniversário. Por mais que digam o contrário, não consigo fingir que não estou ficando velha. É um alívio, às vezes; mas também uma sensação horrível.

De onde vem a calma?

Qual a diferença entre paixão e amor? Será que tem diferença? Qual é melhor?

Nunca pensei que eu fosse gostar de sentir. "Devagar e sempre", sabe? Só sentir, sem precisar ser arrebatada a cada segundo. Sem precisar me explicar ou ficar pensando num próximo assunto pra puxar. Sempre fui meio porra-louca nesse quesito, "que seja infinito enquanto dure". Apesar de saber que tudo que começa rápido, na grande maioria das vezes acaba mais rápido ainda.

Até confesso que, no fundo, eu bem que queria sentir todo aquele, tudo aquilo. Mas, também no fundo, sinto um não-sei-quê de certo, de que isso, sim, é de verdade. Amizade, cumplicidade, bem-querer. Confiança. Eu confiei em você logo de cara, não sei por quê. É algo assim como uma tranqüilidade, "a sorte de um amor tranqüilo" é a mais pura verdade. Não sei explicar, nem ao menos consigo entender. Só sei que, dessa vez, eu tive certeza no dia em que te conheci. Eu nunca mais vou querer beijar outra boca.

"Eu não vou mudar não

Eu vou ficar são

Mesmo se for só,

não vou ceder

Deus vai dar aval sim,

o mal vai ter fim

e no final assim calado

eu sei que vou ser coroado rei de mim."

Não por acaso

Você me ligou umas cinco vezes, e isso só pra gente conseguir combinar de sair. Pela primeira vez, tive que esperar alguém, ao invés de deixá-lo esperando. Me senti uma perfeita namorada emputecida com o atraso do respectivo. Você fica me dando susto de mentirinha. Estava com saudades. Você é que me matou de saudade! Cê devia ter ido ontem. Aonde você foi? Te deixei esperando muito tempo, né? É que os meus pais demoraram. Você dirige tão devagar que chega a me irritar. Mas, no fundo, eu acho bonitinho. Você conhece todos os itinerários de ônibus. Eu, como guia, sou uma ótima servente de pedreiro. Você ouve a mesma rádio que os meus pais. Você conseguiu perder a entrada pra minha rua, mas acabou descobrindo o caminho. Eu sou uma tagarela. Você ficou pensando o que tinha de tão ruim pra eu descobrir logo de cara que você faz ****. Você gosta de quem gosta de filme cult e coisas diferentes. Você trabalhou aqui? Olha, que importante! Você adora moletom com capuz. O futuro do petróleo está nas minhas mãos! Tô contente. Você tá com fome? O meu pai contava essas histórias de faculdade com tanta alegria. A minha mãe fez o último ano grávida. Eu já cheguei 'chegando'. Você fala francês fluentemente. Agora vai ter que me dizer alguma coisa. Você não pode me deixar escolher o programa, senão eu escolho cinema na certa! A sua rua é contramão dos dois lados, é? Vou ao banheiro. Quase entrei na sala errada. Acho que foi nessa sala que assisti A Encantadora de Baleias. Nossa, pelo título, deve ter sido horrível. Não foi não! Era sobre uma menininha, que foi indicada ao Oscar, inclusive. Se o filme for ruim, você vai ver. Você mora em prédio. Não vai chorar, hein? Eu não sei andar de bicicleta. Mentiroso. Mas eu te ensino. Ai coitado, olha a conversa. Olha lá, eles fizeram as pazes! Quer morar comigo? Ele é lerdo. Não fala assim do coitado! Fotografia também é tão legal, né? - Mãe, eu termino as coisas que eu faço. - Ah é? Fotografia, gastronomia, antropologia...?!? Eu queria fazer faculdade de cinema, assim, só de hobby. Eu queria fazer faculdade de música, assim, só de hobby. Ai, nem me fala em monografia de conclusão de curso! Dinâmica dos fluidos, eu estudo essas coisas. - O que você faz? - Mesa de sinuca. Vou responder isso quando alguém me perguntar o que eu faço. Legal a relação dela com o pai. Ah, ele já pegou. Viu, dois segundos fazem diferença. Ai meu deus, ele endoidou de vez! Pára de me fazer cócegas, senão depois eu vou me vingar. Você voltou a fazer academia essa semana. Eu não tenho essa coragem. Você gosta de gente louca. Depois não diga que eu não avisei. Você não tá com fome mesmo? Não, comi a tarde inteira! Você aprendeu a tocar de ouvido. Você assiste filme francês sem legenda pra treinar. Não me irrita, vai. Pára, que eu sou moderninha. O meu pai me ensinou assim! Aonde a gente vai agora? Não sei. O que você quer fazer? Eu não queria que acabasse agora... mas realmente tô sem idéias. Você perdeu um jogo pra sair comigo. Já tô gostando que você não é chato, do tipo que não gosta de nada. Você gosta de mpb e rock antigo. Filme nacional é um bom teste. Então você tá me testando? Você matava aula no colégio pra beber com os seus amigos. Você tá cansado, né, pode falar? É, tô um pouquinho. Você já fez prova bêbado. Você precisa fazer uma perna mecânica pra sexta-feira. E deu o email errado pro seu grupo. Tomara que eles estejam fazendo uma coisa boa! Cara-de-pau. Eu preocupada em te ensinar o caminho, e você se vira pra ir embora.

ps: Descobri que você usa brinco. Ainda não decidi se gostei ou não.

"Tenta vir pra cá!"

Estava eu dentro do meu pijama curtindo a minha sexta-feira sem-graça feliz da vida. Estava tudo bem, desde que eu tivesse um monte de coisas pra me manter ocupada. Artigos pra ler, curiosidades pra fuçar, filmes pra ver e guloseimas pra devorar numa noite tipicamente sem sal. Mas eis que você me aparece com uma proposta tentadoramente indecorosa, assim, aos quarenta e oito do segundo tempo. É o suficiente para que o chão do meu quarto se abra e as minhas pernas comecem a bambear. Eu estava tão bem, tudo estava tão bem, e vem você e me desestrutura. Quase como cafeína, agora sei que vou demorar algumas boas horas pra dormir. Sorte que tenho meu prozac bem ao alcance dos... ouvidos. Não vou mentir que não gostei. Não vou mentir que, em outra circunstância, eu provavelmente largaria deus, o mundo e a mulher do raimundo pra ir pro inferno desde que você me chamasse. Mas ah. Ah! E o nosso quarto-primeiro encontro, dessa vez primeiro encontro de verdade? Iria pras cucuias! E eu definitivamente não estou pronta pra abrir mão de toda aquela magia de saber mais de você sob o efeito de uns goles de cerveja e uma atmosfera melancolicamente efêmera.

Telepatia

Trim, trim. Apreensão. Alegria. Euforia. Lembra de mim ou já esqueceu? O que você acha...? Sorriso tem som? Você perdeu a aposta. É verdade, o que você vai querer? Hum, vou pensar. Pausa. Eu vi a sua mensagem sobre o jogo... Mas eu te consolo, tá? Risada. Como cê tá, tudo bem? E as provas? Ah, não tive prova ainda, mas tinha uns trabalhos pra entregar... Mudança repentina de assunto. Então, vamos combinar de sair? Cê vai tá aqui no final de semana? Vou sim, tenho aula no sábado, mas a gente pode marcar. Eu também tenho jogo, a gente sai depois então. Comemoração. Já tem algum lugar em mente? Deixo você escolher, porque eu sou bonzinho. E agora? Preciso pensar. Tá, vou pensar então e te ligo... ou você me liga. Que saudade. Sinceridade. Adorei que você ligou. Um beijo. Sorriso bobo.

Deixa eu fingir e rir

Eu sei que é cedo e eu sei que não devia... mas assim você acaba me conquistando.

Flor no cabelo

Era noite e fazia um frio sentimental insuportável. O seu sorriso floresceu nos meus cabelos. Uma aproximação inesperada. Meus olhos envergonhados e ao mesmo tempo enternecidos. Eu, 'estilosa'? Você não fazia nada, só balada e sucesso. Eu adivinhei certo. Comprovação da veracidade das palavras. Um novo apelido. Eu pareço ter dezenove ou vinte anos. Você sabe cozinhar comida caseira. Eu estudava no concorrente. Diminutivo ou aumentativo? 'Feito pra você', a idéia foi minha. Você também não sabe o que quer da vida, graças a deus. Interrupção. Você não vai falar com ele, né? Eu só vou *falar* com o seu amigo. Quer pegar uma bebida comigo? Estou bebendo jurupinga. Linda intervenção. Não, vem pegar *comigo*! Você movido pelo ciúme e eu pela certeza. Eu te peço calma. O primeiro de muitos. Seus braços cicatrizantes. Você gosta de filosofia. Eu sou sensível. Camisa número dois. Quando eu te vi ali de lado, eu soube, você ia ser minha. Eu preciso aprender a dançar. Sim, eu sou uma sedentária. Você ia bem em tudo no colégio e por isso não sabia qual carreira escolher. Se eu fizer um gol, vai ser pra você. As suas mãos medindo a minha cintura. As minhas puxando a sua blusa. Caipirinha de melancia e aula de dança. No futsal, todo mundo ataca e todo mundo defende. Vou ao banheiro, mas não sai daqui, tá? Uma surpresa. O primeiro passo é para trás e, depois, dois pra lá, dois pra cá. Adorei te conhecer... Eu também. As minhas amigas são 'gente boa'. Você faz aniversário em dezembro. Sim, senhora. Você deu uma volta enorme por minha causa. Promessa cumprida. Você diz que vai ligar e liga. No dia seguinte, o amor deixa marcas. Você só conseguiu dormir duas horas. Nunca gostei tanto de subir uma ladeira. Ela está comigo. Você gosta de usar chinelo e sandália. Biscate não sente frio. Ah, adoro homem que usa sandália! Eu gosto de beber cerveja. Você toca violão e guitarra. Eu estava muito quieta. Você me ensinando a dançar forró. Hoje o meu melhor amigo veio aqui só pro churras... Amigo, que amigo? Nem o sono pôde nos separar. A sua barba me arrepiando, no seu rosto inacreditavelmente macio. Agora vou dar uma de difícil. Você sabe que eu não resisto e me provoca. Huh! Que foi? É que eu *amo* essa música. Você sente cócegas. As suas mãos na minha barriga. Um banco. É possível sentir saudade antes mesmo de a pessoa se despedir? Você não sabia mandar mensagem e mesmo assim mandou. Um jogo ruim que foi bom. Nervosismo juvenil. Você estava doente e preferiu dormir bem pelo menos uma noite. Mão na perna. Gostava de handebol no colégio, mas pra essas coisas de competir em público eu sou tímida. Seus pais te trouxeram. Um uniforme fedido. Uma vez eu bati no carro do meu amigo... O meu pai é um anjo. Atleta não pode beber, que droga. Preguiçosa e pinguça, que vergonha. Você sozinha na balada... vai se comportar, né? Uma aposta. Vem, que comigo ninguém mexe. Eu queria ter visto você jogar. Se eu for eu te ligo. Os meus pensamentos todos pra você. Tive que me segurar pra não largar tudo e ir ao seu encontro. Ansiedade de menina. Incontrolavelmente sua.

Mal te conheço e já escrevo sobre você.