O dia.
(...)
O dia em que eu fui do inferno ao céu mais rápido que um míssil teleguiado, que uma flecha vertical, que um foguete com destino às estrelas, que uma gravidade invertida.
Eu estava surtando. Femininamente, surtando... imaginando de tudo, mil dores e horrores, o fio de cabelo no paletó, a gota d'água, o deslize fatal, que você estava bravo comigo, que tinha motivos para estar bravo comigo, que estava tudo acabado entre nós, enfim. Já estava até preocupada porque tava com um aperto no peito mas - ainda - não tava com vontade de chorar, o que geralmente significa sem sombra de dúvida que o buraco é mais embaixo. Que, quando a dor vier, vai ser uma enxurrada e não vai haver barragem que segure.
Assim estava eu, patética.
Até que... até que, como algo divino - "uma parada divina mesmo", você disse -, uma mudança de dados, uma troca de palavras, simples, mudou tudo. David Lynch. Ou manteve tudo como estava antes. David Lynch. Ou melhor, melhorou ainda mais o que já era impossível de melhorar. David Lynch.
Numa singeleza sem tamanho, numa simplicidade tão bonita da qual só você é capaz, você me vira e me torce e me harmoniza e me amolda ao seu bel-prazer. Eu te conto uma banalidade - David Lynch - qualquer. Do nada, você me pergunta se me pede em casamento agora ou se espera até comprar as alianças. Sim, você me pediu em casamento antes mesmo de me pedir em namoro. Ao que eu respondo qualquer coisa assim besta pra disfarçar, pra dar a entender que percebi que você estava só brincando, só falando por falar. Não satisfeito, você me diz que é "sério mesmo", que - David Lynch - é coisa séria pra você e pra eu não brincar com o seu coração. E aí eu caio, hopelessly e naturalmente, na sua armadilha e começo a te contar das vezes que eu mais gostei, das sensações e das coisas que eu senti, dos frios na barriga, da felicidade que é estar com você e ter você na minha vida... e vem você e me quebra com um "foi quando senti que você e eu não seria algo passageiro". Dizendo que o meu olhar te pegou de jeito aquele dia na lanchonete, enquanto que o seu me capturou um pouco antes, na sua peça, quando você estava olhando pra plateia. E lá ficamos os dois bobos, um querendo olhar pro outro, sem que o outro soubesse, tendo que disfarçar. Confusos. Você já desencanando de mim e eu sem esperar mais nada. Voltando pra casa pensando no que impulsivamente devíamos ter feito antes de ir. Dois bocós.
É o que nós somos, dois bocós.
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O dia em que eu fui do inferno ao céu mais rápido que um míssil teleguiado, que uma flecha vertical, que um foguete com destino às estrelas, que uma gravidade invertida.
Eu estava surtando. Femininamente, surtando... imaginando de tudo, mil dores e horrores, o fio de cabelo no paletó, a gota d'água, o deslize fatal, que você estava bravo comigo, que tinha motivos para estar bravo comigo, que estava tudo acabado entre nós, enfim. Já estava até preocupada porque tava com um aperto no peito mas - ainda - não tava com vontade de chorar, o que geralmente significa sem sombra de dúvida que o buraco é mais embaixo. Que, quando a dor vier, vai ser uma enxurrada e não vai haver barragem que segure.
Assim estava eu, patética.
Até que... até que, como algo divino - "uma parada divina mesmo", você disse -, uma mudança de dados, uma troca de palavras, simples, mudou tudo. David Lynch. Ou manteve tudo como estava antes. David Lynch. Ou melhor, melhorou ainda mais o que já era impossível de melhorar. David Lynch.
Numa singeleza sem tamanho, numa simplicidade tão bonita da qual só você é capaz, você me vira e me torce e me harmoniza e me amolda ao seu bel-prazer. Eu te conto uma banalidade - David Lynch - qualquer. Do nada, você me pergunta se me pede em casamento agora ou se espera até comprar as alianças. Sim, você me pediu em casamento antes mesmo de me pedir em namoro. Ao que eu respondo qualquer coisa assim besta pra disfarçar, pra dar a entender que percebi que você estava só brincando, só falando por falar. Não satisfeito, você me diz que é "sério mesmo", que - David Lynch - é coisa séria pra você e pra eu não brincar com o seu coração. E aí eu caio, hopelessly e naturalmente, na sua armadilha e começo a te contar das vezes que eu mais gostei, das sensações e das coisas que eu senti, dos frios na barriga, da felicidade que é estar com você e ter você na minha vida... e vem você e me quebra com um "foi quando senti que você e eu não seria algo passageiro". Dizendo que o meu olhar te pegou de jeito aquele dia na lanchonete, enquanto que o seu me capturou um pouco antes, na sua peça, quando você estava olhando pra plateia. E lá ficamos os dois bobos, um querendo olhar pro outro, sem que o outro soubesse, tendo que disfarçar. Confusos. Você já desencanando de mim e eu sem esperar mais nada. Voltando pra casa pensando no que impulsivamente devíamos ter feito antes de ir. Dois bocós.
É o que nós somos, dois bocós.