Friday, June 18, 2010

Movimento Circular Uniforme

Dois trens partem em trajetória circular uniforme, cada um em seu próprio ritmo. Como os ponteiros de um relógio, um levando as horas, outro levando os minutos. Cada trem carregando seu passageiro. Cada passageiro carregando seu coração. Como os planetas, ao mesmo tempo em rotação e em translação, cada um com seus satélites e luas próprios. É a trajetória da vida, das estações, das paradas inesperadas, dos desvios pelo caminho, dos acidentes na estrada, do tempo e do espaço. Por mais que se queira negar, é um ciclo vicioso. Às vezes, passam pelos mesmos locais, pelas mesmas placas, pelos mesmos sinais. Só que os vêem diferentes. Fazem o mesmo trajeto, o mesmo circuito, o mesmo itinerário. Trilham o mesmo caminho. Porém em momentos diferentes, com olhos diferentes. Seus faróis iluminam o percurso cada um à sua maneira. São chegadas e partidas, encontros e despedidas. Mas o destino, quando acha que deve, reserva conexões, baldeações, interligações. São momentos mágicos em que a vida caprichosamente permite que os ponteiros se encontrem, se acertem, se sobreponham como se fossem um só. Que os trens se deixem desembalar e se reúnam na estação. Que os planetas compartilhem seus ciclos viciosos e coincidam num mesmo ponto. Tudo no universo parece conspirar para que eles se ajustem perfeitamente. Esses momentos podem ocorrer de tempos em tempos, ciclicamente, como o nascer do sol, ou apenas uma única e especial vez, como um eclipse. E ali, por apenas aquele único segundo, um singelo momento, o encontro é perfeito. A sintonia é completa. E a plataforma da estação parece se esvaziar só para presenciar aquela conjunção de fatores sublimes. Para depois se encher de novo de pessoas, de pressa, de correria, de vida... e recomeçar a viagem.

E fica a mágica no ar das engrenagens dos relógios nos pulsos pelas estações do mundo afora.

2 comments:

Edu said...

...quando a prosa se transforma em poesia!

uma louca said...

Imagine, são os olhos de quem lê...