Friday, December 30, 2011

Quando se chega à bifurcação...

Aceitar que certas coisas, épocas e pessoas não vão mais voltar. Entender que o tempo está passando e, uma hora ou outra, pode ser tarde demais. Confiar que tem algo bom me esperando lá na frente. Compreender a magia do mundo, que ele sempre encontra o seu próprio jeito de um dia fazer sentido. Abrir os meus caminhos por mim mesma, sem receita, sem molde, sem manual. As coisas não precisam necessariamente sair do jeitinho que a gente imaginou pra darem certo. Acalmar o meu coração pras surpresas que estão por vir. E consolá-lo pras eventuais frustrações. Caminhar pelas minhas próprias pernas. Doar sangue. Escolher os destinos das futuras viagens e planejar os recursos. Viver com mais alegria. Produzir. Não importa o que, mas a arte está em produzir. Cuidar do meu corpo, mas, mais importante, das minhas idéias. Ler. Conseguir enxergar cada vez mais a beleza do mundo. Admitir os meus erros e tentar consertá-los. A gente só consegue alguma coisa quando admite o que é. Estudar. Aprender, que eu considero mais importante ainda do que estudar. Dançar mais. Crer, porque as realizações só vêm pra quem crê. Sonhar, sempre, sonhar.

Decidir. Tomar um rumo, qualquer que seja. Decidir. Seguir numa direção sem olhar pra trás. Decidir. Sair correndo por um caminho sem pestanejar. Decidir...

Wednesday, December 28, 2011

La Loba

À noite, enquanto a cidade sonhava... no céu a luz de uma estrela brilhava. Acho essa música linda de tudo, sempre me emociona, sempre.

Chega o fim do ano e essa minha melancolia-hóspede vem me visitar e bate mais uma vez à porta. É engraçado, mas acho que não seria eu se assim não fosse. Definitivamente, não seria.

Porque, mais do que cíclico, mais do que instintivo, me atrevo a dizer que até mais do que feminino, é canceriânico mesmo, esse lance de andar pra frente, parar, recuar, andar pra trás um pouquinho, para conseguir voltar a andar pra frente. Coisa de caranguejo. Ir tateando, sentindo, experimentando. É a essência do natural, do instintivo, do feminino. Pedindo para sair, para se manifestar, para se mostrar. Mais do que pedindo, ordenando, ansiando, conquistando, tomando conta, rasgando tudo. Preciso desesperadamente dessa limpeza, dessa reciclagem, dessa troca de pele. O que antes era apenas uma leve penugem começa a engrossar, a virar um pêlo grosso e forte. As patas antes cambaleantes começam a se calcar melhor no chão, com mais firmeza. As orelhas antes tímidas e baixas começam a procurar mais decididas o som. Os olhos antes hesitantes passam a encarar o perigo de frente e sem medo. O rabo antes acanhado e encolhido toma a forma de um instrumento, conferindo vigor e robustez. Maturação. Amadurecimento. Consciência. Força. Poder. Instinto. A Mulher Selvagem, assim mesmo, tudo em maiúsculo...

Daqui pra frente, só Deus sabe. Não posso mudar o ponteiro das horas. Mas posso mudar o hoje, o agora e o ponteiro dos segundos.

“Winter is coming...”.
[Game of Thrones, magnífica.]

Sunday, December 04, 2011

Crimes e penas

Nunca duvidei, nunca. Acredito demais em Deus, tenho uma fé inabalável. Mas, mais do que frequentar igreja e ir à missa, que também acho importante, mas não essencial, acho que o que decide mesmo é a conexão. O amor que a gente tem dentro da gente. A fé mesmo, pura e simples. Precisamos confiar, ter essa ligação. É o que liga a gente ao mundo, o que nos faz acreditar nele e, sem isso, eu sinceramente não saberia viver. Já me irritei, desacreditei, julguei e até maldisse a vida por algumas frustrações... mas hoje não mais. Hoje eu ando pelo mundo sorrindo, não importa o que me aconteça. Sorrio porque estou viva. Sorrio porque posso ver o mundo, porque posso tocá-lo, porque posso senti-lo, porque posso caminhar por ele, porque posso me maravilhar com os acontecimentos dele, porque ainda tenho tanto pra viver nele, porque posso me deixar ser invadida por ele a cada segundo. Encaro tudo como uma bênção, uma surpresa, um bônus. E é mesmo. Se a gente não se entregar, não acreditar, não agradecer inclusive pelas dificuldades, que nos fazem mais fortes, não confiar que tudo faz parte de uma coisa maior, viramos aqueles amargurados que não sabem viver e só passam pela vida, sem deixar nada de bom pro mundo nem pra ninguém.

Mas, mais do que tudo, eu confio. Confio que tudo nessa vida tem um porquê, mesmo que a gente na hora não entenda. Tudo um dia faz sentido. Confio que quem merece sempre alcança, que esse mundo dá voltas e surpreende os mesquinhos e recompensa os generosos, mesmo que demore. Não acredito em "falta de sorte". Acredito em alegria, em generosidade, em altruísmo, em desprendimento. Tudo é ação e reação. Fazer para os outros o que gostaríamos que fizessem por nós, ser para os outros o que gostaríamos que fossem para nós. Mais até do que o que fazemos, mas o que somos.

E, no fim das contas, tudo tem o seu jeito especial e particular de, mesmo no caos, se rearranjar. Isso é justiça. E é só o que eu quero dessa vida.

"Pensamentos viram ações, ações viram hábitos, hábitos viram o caráter e o caráter vira o seu destino." [Aristóteles.]

Thursday, November 24, 2011

Apelações e agravos

Saudade
Saudade, lembrança
Lembrança de tantas memórias
Lembrança do que não foi, do que não veio
Do que veio e se foi
Alguns nãos, tantos sins...

O dito pelo não dito,
Os silêncios eloquentes
A comunicação não falada,
Mas sentida,
Arrepiada

Ah, taaaaantos, mas tantos sins...

Distâncias que separam
E que parecem aproximar cada vez mais
Talvez a resposta seja esta:
Distância física para proximidade espiritual

Você chegou aqui primeiro
E eu sempre, sempre, atrasada
Fico correndo atrás do tempo
Como se tivesse alguma chance
De algum dia alcançá-lo

Perdida na ilusão, eu corro
Corra, Lola, corra
Como num desenho animado
De calça cinza, blusa verde
E cabelo vermelho

E os meus diários me vão caindo dos bolsos
Papéis voando, voando, voando...
Como se fugissem de mim,
Como se não mais meus fossem
Assim como a minha história

E você aí, destinatário anônimo
Das cartas que eu nunca enviei
Guardadas na minha memória
Será que algum dia enviarei?

Ah, como eu odeio apelação!
Só não odeio mais do que agravo.

Thursday, November 17, 2011

Já foi

Sabe quando a gente sente que tá tudo passando rápido demais? O tempo, os acontecimentos, as pessoas, a vida... Então. É porque o momento já passou, já foi, já era.

Thursday, October 27, 2011

Gypsy

"So I'm back, to the velvet underground
Back to the floor, that I love
To a room with some lace and paper flowers
Back to the gypsy that I was
To the gypsy... that I was

And it all comes down to you
Well, you know that it does
And lightning strikes, maybe once, maybe twice
Oh, and it lights up the night
And you see your gypsy
You see your gypsy

To the gypsy that remains faces freedom with a little fear
I have no fear, I have only love
And if I was a child
And the child was enough
Enough for me to love
Enough to love

She is dancing away from me now
She was just a wish
She was just a wish
And a memory is all that is left for you now
You see your gypsy
You see your gypsy

Lightning strikes, maybe once, maybe twice
And it all comes down to you

I still see your bright eyes, bright eyes
I have always loved you
And it all comes down to you..."
[Fleetwood Mac... or even better, Stevie Nicks!]

Monday, October 24, 2011

Cidade gata de botas

Tô cansada. Tô vazia. Ando por aí topando nas emoções, nas coisas e nas pessoas, à espera de algo a me preencher. Eu sou um vácuo. Um útero. Cheio de todos os recursos necessários mas sem vida pra gerar. Subumano, subutilizado, underrated. Suburbano, no meio dessa cidade sadicamente apaixonante. Os perfumes se misturam com os odores, a beleza com a feiúra, a serenidade com o caos, as calçadas modernas perfeitamente calculadas com as sarjetas, as árvores com o trânsito, os pés com os pneus, os cabelos milimetricamente asseados com as barbas mal-aparadas, os transeuntes com os carros, os ternos com as calças rasgadas, a solidão com as multidões. Tudo no mesmo balaio. Um só coração que bate por todos. E ele pulsa, pulsa...

Tô impregnada por São Paulo, é assim que eu me sinto.

Monday, October 17, 2011

Com o perdão de começar frases com pronomes oblíquos

Me esqueçam, me errem, me apaguem... eu morri.

Sunday, September 25, 2011

Um

Cada dia mais eu vejo que cada um é um. Nada desse negócio de "metade", de "laranja", nada. Nós somos nossos. Cada pessoa é dela e só dela. Como Clarice, que, antes de qualquer coisa, antes de ser mãe, antes de ser esposa, antes de ser escritora, eu ousaria dizer que antes até de ser mulher, era dela. Com quem nós realmente temos que conviver e não podemos fugir é conosco mesmos... e cada experiência, cada passo, cada dia nos permite esse mergulho e esse aprofundamento em nós mesmos que só é possível a nós mesmos. E aí é que está a beleza da vida: eu sou minha, você é seu, mas nada impede que nossos caminhos se cruzem e que nos conheçamos e que nos encantemos singelamente um com o outro. Um com a individualidade do outro. Ah, as pessoas...

"Tem gente que entra na nossa vida de forma providencial e se encaixa naquela história que gosto de imaginar: surpresas que Deus embrulha pra presente e nos envia no anonimato. Surpresas que só sabemos de onde vêm porque chegam com o cheiro dele no papel. Acho maravilhoso perceber o quanto algumas vidas interagem com a nossa de um jeito tão mágico e bonito. Os milagres existem para quem tem olhos que sabem ver a sabedoria e a ludicidade amorosa próprias do que é divino. Do que transcende. Do que escapole da nossa lógica tantas vezes sem coração. Todo encontro que verdadeiramente nos toca é uma espécie de milagre num mundo de bilhões de seres humanos. Algumas pessoas a gente nem imaginava que existiam, mas, meu Deus, que agrado bom é para a alma descobrir que vivem. Que estão por aqui conosco. Pessoas que fazem muita diferença na nossa jornada, com as quais trocamos figurinhas raras para o nosso álbum."
[Ana Jácomo]

Thursday, September 22, 2011

Um encontro

Um contato, um inesperado contato.

Confesso que não esperava muito. Por enquanto.

Algumas linhas mal escritas trocadas. Mas até os tropeços fazem parte do seu charme. Pensamentos e idéias que, mesmo mal traçados, se encontram. Colidem, se fundem, se unem. Você sou eu.

Uma viagem e bad timing.

Uma espera.

De repente, uma voz. Fiquei imaginando o cheiro, o gosto, a pele daquela voz. Não entendi quase nada do que você falou no celular, maldito celular, mas o silêncio e a imaginação me contaram o que eu precisava saber. Alguém que ri das minhas besteiras com uma risada gostosa e se comove com as minhas sentimentalidades com o coração enlevado. Que me deixa esperando deliciosamente numa livraria. Que me apresenta a lugares "para ocasiões especiais". Que procura as minhas mãos com as suas. Que leva um caderninho no bolso. Que pensa "ela vai voltar um dia...". Que me dá revistas de presente, me mostra matérias e imagina se eu vou gostar. E que carrega uma mochila, como eu.

Um homem gentil.

Olhos atentos, tentando não piscar, não perder nenhum detalhe. Olhos de fotógrafo. E coração também.

Expectativas superadas? Não sei, só vou saber quando chegar em casa, beber um copo d'água e deitar na cama.

Eu quero lembrar de tudo, mas não consigo. Tudo foi tanto...

Numa escada rolante de metrô, um grito: "Viva Clarice Lispector!". Uma camiseta não usada, mas sentida. Uma estrela vermelha que tinha que estar ali. Eu sei que ainda está zero a zero. Ela tem uma coisa que é só dela, ela é dela, e de mais ninguém. O prazo de validade dos três meses. Dividindo uma "Bauhaus" e uma "Patrícia" com você. Um farol fechado. Abraços quentes e beijos molhados pelas ruas numa sem-graceza delirante. Uma delicada chuva caindo em gotas. Um casal de opostos. Uniforme e rebeldia. Convencionalidade e liberdade. Futebol e poesia. Bicicleta e magrela.

Pode embrulhar para presente, vou levar.